quinta-feira, 10 de abril de 2008

Debate do Movimento Escola Pública em Viseu

Pais e professores querem maior investimento nas escolas e criação de equipas de apoio
A Escola Pública esteve ontem em destaque num debate que juntou pais e professores em Viseu. Que escola temos? Como é aquela que queremos projectar no futuro? O que é necessário alterar? Estas foram algumas das questões que estiveram ontem em análise no Solar dos Peixotos, em Viseu, a propósito do debate sobre "Escola Pública".Na iniciativa participaram a professora Graça Pinto, representante do Movimento com o mesmo nome, e a presidente da Federação Regional de Associações de Pais de Viseu, Maria José Viseu.Em comum, as duas intervenientes têm a ideia de que a temática da escola se reveste de grande actualidade, sendo necessário analisar os problemas e os desafios que a mesma enfrenta, na medida em que podem por em causa alguns dos valores que a caracterizam e que se apresentam como estruturantes.A igualdade de oportunidades e a democracia, nomeadamente ao nível da gestão, são alguns dos aspectos que Graça Pinto considera estarem em risco se se continuar a insistir em políticas desajustada. Como exemplo, dá a concentração de poderes no Conselho Executivo, que passa a nomear os coordenadores de departamento, até agora eleitos. Paralelamente, apontou ainda que o órgão pedagógico vê as suas intervenções diminuídas, "o que poderá ter reflexos negativos na cooperação em equipa".Escolas públicas"têm menos oportunidades"O desinvestimento em termos de recursos humanos e materiais, que se opõe ao aumento de responsabilidades e aos novos desafios colocadas às escolas, merece também críticas por parte da docente, assim como o novo modelo de avaliação dos professores que está "a destabilizar" os estabelecimentos de ensino numa altura em que os seus agentes deveriam estar concentrados em apoiar os alunos aos níveis pedagógico e educativo."É pesado e burocrático", apontou, realçando que no Agrupamento de Escolas de Celorico da Beira o processo foi suspenso, o que poderá acontecer noutras instituições. "As escolas dividem-se entre uma posição crítica e de expectativa", revelou, convicta de que em muitas não vai ser possível implementá-lo.A falta de infra-estruturas físicas, de auxiliares de acção educativa e de técnicos foi um dos problemas apontados por Maria José Viseu à escola pública, que na sua opinião se encontra num patamar inferior, em termos de valências e oportunidades, face ao serviço público de educação.PreocupaçõesPor isso, a responsável defendeu que é necessário definir o modelo que se quer para as escolas, nomeadamente no que diz respeito à vertente social e à sua função de ensinar e formar. A este nível, não esqueceu que o desafio passa por conseguir que o país se consiga integrar na Europa e apresentar cidadãos competentes e competitivos, com destaque para a componente científica.Em contrapartida, lamentou que se esteja a apostar em políticas educativas que põem em causa a chamada escola pública. A diminuição da participação dos pais que, ao abrigo do novo estatuto do aluno, passam a ser "meramente informados" e deixam de ter quota de representação com a proposta do modelo de autonomia e gestão; é outro dos aspectos que criticou a propósito do que considera ser "um retrocesso".Ao nível distrital, a principal preocupação vai para o encerramento das escolas do 1º ciclo que, para Maria José Viseu, potenciam a desertificação do Interior e têm repercussões sociais ao nível do desenraizamento e da indisciplina. "Esta é consequência de uma série de medidas desajustadas", concluiu.SoluçõesapontadasA questão da violência e da indisciplina, que tanto tem estado em destaque pelos piores motivos com a denúncia de casos específicos nas escolas, também não foi esquecida. A falta de apoios educativos nas salas para alunos com necessidades especiais, a criação de turmas "de primeira e segunda", a falta de auxiliares para acompanharem os estudantes nos intervalos e as condições físicas oferecidas por alguns estabelecimentos foram as principais queixas das intervenientes.Para colmatar a situação, e evitar que situações como aquelas que têm sido dadas a conhecer se repitam, a presidente da Federação sugeriu que seja feito um trabalho a montante e haver uma boa rede social. Sobre este ponto, a docente Graça Pinto defendeu a constituição de equipas pluridisciplinares, com assistentes sociais, professores e psicólogos, que, em cooperação com os centros de saúde, possam acompanhar as famílias em situação mais complicada.Promover acções que dêem a conhecer a importância das escola e dos professores, a elaboração de turmas mais pequenas e a promoção de acções que debatam o estado da Educação, também está entre as ideias apontadas."É importante ouvir as pessoas que estão no terreno, o que pensam as associações de pais, as federações e a comunidade educativa e só depois passar-se para medidas nacionais", sustentou Maria José Viseu, que tem uma filha no 11º ano, e se prepara para realizar pela primeira vez exames nacionais, e um rapaz a frequentar o 8º ano.

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