quinta-feira, 10 de abril de 2008

Cancro volta a matar ex-mineiros da Urgeiriça

Morreu de cancro no pulmão mais um antigo mineiro da Empresa Nacional de Urânio (ENU), sediada na Urgeiriça, em Canas de Senhorim, Nelas. Alexandrino Pinheiro Henrique, de 58 anos, morreu anteontem, não resistindo à doença provocada pelo contacto de materiais radioactivos depois de duas décadas de trabalho naquela empresa. Desde o fim da laboração do complexo mineiro da ENU, em meados da década de 90, já morreram de cancro mais de uma centena de trabalhadores. O número foi revelado, ao JN, por António Minhoto, porta-voz dos antigos operários. O falecimento de mais um ex-mineiro voltou a fazer subir de tom as vozes de descontentamento entre os antigos trabalhadores da ENU, que ontem anunciaram uma concentração de protesto durante a cerimónia que marcará a conclusão das obras de reabilitação ambiental da Barragem Velha, na Urgeiriça. Agendada para a próxima segunda-feira, vai contar com a presença de três secretários de Estado Indústria e Inovação, Ambiente e Saúde."A revolta e a indignação são cada vez maiores", alerta António Minhoto, que tem liderado um sem-número de lutas férreas em defesa de direitos nunca alcançados pelos antigos homens das minas.À cabeça estão duas reivindicações, "já com barbas", ironiza Minhoto a equiparação de "fundo de mina" a todos os trabalhadores da ENU, mesmo aqueles que não tinham vínculo à data da dissolução da empresa, em 2001; e o pagamento de indemnizações aos familiares daqueles que morrerem de doenças relacionadas com a exposição à radioactividade."Se o Governo pensa que, com a morte dos trabalhadores, um a um, pode ficar descansado, engana-se. Enquanto houver um mineiro vivo, lutaremos sempre com força, cada vez com mais força", assegurou o porta-voz ao Jornal de Notícias.No auge da exploração das minas da Urgeiriça, durante os anos 50, 60 e 70, o complexo chegou a dar emprego a mais de 600 pessoas. Com a quebra do valor do urânio, devido à exploração do minério por outros países, a actividade na Urgeiriça foi diminuindo. Até à extinção da ENU, a empresa-mãe, em 2001.
Rui Bondoso
Jornal de Notícias

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