sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Pobreza


A indústria do negacionismo climático

Ricardo Coelho

Dizem-nos que o fim do mundo está próximo. Não serão os quatro cavaleiros do apocalipse que o destruirão mas antes a própria humanidade, que liberta dióxido de carbono (CO2) para a atmosfera a uma velocidade vertiginosa. Medo, muito medo… Ou não. Na realidade, o que causa o aquecimento do planeta é o brilhante Sol. A estrela central do nosso sistema solar emite radiações fundamentais para a nossa sobrevivência mas de vez em quando prega-nos uma partida e aquece de tal forma o planeta que podemos fazer praia na Noruega em pleno Inverno. Mas isto não deve ser motivo de preocupação para nós, já que é apenas uma fase temporária. Em breve tudo voltará ao normal. Ou seja, podemos continuar a utilizar os combustíveis fósseis como se fossem infinitos. Saibamos ignorar as mensagens alarmistas do ambientalismo anti-humanista, que levará ao genocídio dos mais pobres do mundo, e viveremos bem melhor.
Motivo de satisfação para uns e de risota para outros, o parágrafo acima descreve o tema central da argumentação dos negacionistas climáticos. O documentário exibido pelo Channel 4 britânico e agora distribuído em DVD “The Great Global Warming Swindle” (GGWS) é um óptimo exemplo.
Ler Mais...

Dossier: FÓRUM DE IDEIAS SOCIALISMO 2007

No próximo fim-de-semana (31 de Agosto, 1 e 2 de Setembro), realiza-se o Socialismo 2007, um Fórum de Ideias organizado pelo Bloco de Esquerda que vai incluir concertos, debates e workshops.Os temas em debate incluem grandes temas como Política, Economia, Trabalho, Política Internacional, Europa, Direitos, Ciência, Comunicação e Média,, Artes, História, Ecologia. Para este Fórum, foram convidadas pessoas de diversas origens políticas, áreas científicas e experiências de activismo. Neste dossier, dividido pelas grandes linhas temáticas do fórum, reunimos textos para apoiar o conhecimento dos temas em debate. Os documentos estão em formato pdf, podem ser lidos na tela ou impressos para depois ler com mais calma. Fique atento, que durante toda a semana, novos textos irão sendo acrescentados.
Dossier Socialismo 2007

Grécia: manifestantes culpam governo


Respondendo a um apelo por sms e pela internet, mais de 10 mil pessoas compareceram na manfestação em Atenas para protestar contra a "inércia e ineficiência" do governo no combate aos incêndios que têm devastado a Grécia e que já provocaram 63 mortes. No total, arderam 275 mil hectares, três mil pessoas ficaram sem casa e as autoridades apontam para prejuízos na ordem dos 1.200 milhões de euros. Entretanto, a intensidade dos fogos diminuiu, graças à descida das temperauras e ao abrandamento dos ventos, mas para o próximo fim de semana a situação pode agravar-se com uma nova subida da temperatura. O partido do governo continua a descer nas sondagens para as eleições legislativas, que se realizam a 16 de Setembro.
Ler mais...
www.esquerda.net

Cidadãos mobilizam-se contra os transgénicos

Um grupo de cidadãos está a divulgar por e-mail uma acção contra os transgénicos. A ideia consiste em vestir t-shirts que alertem para o perigo destas substâncias, além da distribuição de panfletos alusivos ao assunto. Realiza-se no próximo Domingo às 19 horas em Lisboa (Praça da Figueira), no Porto (Praça dos Leões) e em Coimbra (Largo da Portagem). Entretanto, Boaventura Sousa Santos, num artigo pulicado hoje na revista Visão, considera que só a pressão do "fortíssimo lobby" das multinacionais pode explicar por que razão Portugal " seja hoje um dos seis países a aceitar os transgénicos". O sociólogo questiona ainda: "se os OGMs fazem mal às borboletas e outros animais inferiores porque não accionar o princípio da precaução?"Leia a opinião de Boaventura Sousa Santos

domingo, 26 de agosto de 2007

Intervalo de fim de semana

CHUVAS DE VERÃO




Quando chovia, Luiza escondia os espelhos com lençóis e queimava palma de Santa Rita pela casa. Rezava orações molhadas, embalada pelas visões de Noé a navegar um oceano sem peixes e de Moisés a abrir uma estrada no mar. Temia o dilúvio, mas amava as águas. Gostava tanto delas que colocava baldes debaixo das calhas só pelo gosto de beber água de chuva, encher umabacia e se sentar dentro dela para banhar as partes íntimas.
A intimidade com as águas foi tanta que Luiza emprenhou delas. O pai não entendeu esta aquática concepção e a expulsou de casa. Não teve José nem o Espírito Santo para lhe indicarem uma manjedoura e acabou parindo num hospital municipal, num dia em que os médicos entraram em greve. Parto difícil. Placenta cheia, a inundar os corredores e a cidade quando a bolsa arrebentou. Foi socorrida por Sebastiana das Águas, um esqueleto seco que por falta de leito jazia estendida no chão.
Depois do nascimento, não vieram os reis magos e nenhuma estrela iluminou o céu. Compreendeu o descanso de Deus e foi-se embora carregando o filho, embrulhado num casaco velho.
Criou o filho com as águas (era lavadeira). Por falta de vagas na escola, não lhe deu estudos. Mas deu água. Muita água, ao invés de leite.
Quando ficou velha, já não escondia os espelhos nem queimava palma de Santa Rita: as chuvas já eram outras e as águas das calhas, poucas. O medo do dilúvio tinha escorrido pelo ralo e agora tinha outro rosto: deserto e seco como a desesperança do fio de água a descer das montanhas; árido e infértil como a sua barriga vazia. Não era coisa do Céu. Era humano, demasiadamente humano...
Luiza aprendeu então a temer os homens. Mas nem todos. Temia os "de lá". Os de lá das bandas dos roubos juramentados, dos surrupios legalizados, dos desfalques justificados, das violências banalizadas e das mentiras validadas. Os "de cá", os das bandas dos que sempre esperam, ela amava como amava as águas na época em que elas emprenhavam o mundo.
Marcia Frazão



quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Deve ser do Sol

Ontem mesmo, Jaime Silva, ministro da agricultura, acusou o BE de "incentivar aqueles jovens" e insinuava que este partido teria estado por trás da acção na herdade da Lameira. O bloco não tem nada, rigorosamente nada, a ver com os acontecimentos ou o movimento que lhe esteve na origem. Nem os seus jovens, que no dia dos acontecimentos se encontravam acampados... mas a 600 quilómetros de distância.

O único elemento sobre o qual se funda esta inadmissível extrapolação por parte do ministro é o facto de eu, há três dias, ter expresso "simpatia com o gesto".
Escrevi o que escrevi a título estritamente pessoal, e no blog Sem Muros reconheço que errei (quem desejar que o consulte). Mas, mesmo que assim não tivesse sido, é no mínimo estapafúrdio associar uma manifestação de simpatia à posteriori com uma "conspiração antecipada". Não é só estapafúrdio. Um ministro não pode acusar ou insinuar sem provas.
O Bloco desenvolve as suas acções às claras e de rosto destapado. Pode concordar-se ou não com elas. Mas quando age, envolve os seus próprios dirigentes. Não ficam na retaguarda.
As raízes da ira
Não posso deixar de me referir ao modo como os "miúdos" têm sido tratados: de betinhos a vândalos, de terroristas a drogados e de desocupados a comunas, tudo vale e continua a valer.
Sou de um tempo onde, tantas vezes à falta de melhores argumentos, se resolviam diferendos nas esquerdas com epítetos relativos à origem de classe ou ao modo de vestir e viver. Assisti agora, 30 anos depois, a essa ressurreição e não gostei do que vi. Muitos dos actuais liberais bem pensantes também não deviam gostar. Por todas as razões e porque também eles, em tempos idos, apanharam com esse enxoval de "acusações".
Na sublevação dos indignados a pedra de toque é a questão da propriedade que está em causa que dá o tom. Todos os fantasmas saltaram de imediato. Esta mesma indignação jamais veria a luz do dia se o caso fosse o de um despedimento, ou o de um pai de um "betinho" fugindo ao fisco. Ou mesmo o de um betinho em bolsa, limpando pequenas poupanças em operações legais, envolvendo montantes bem maiores do que 3900 euros.
Classifiquei este delírio como uma "tempestade num copo de água". Na realidade é bem mais do que isso. É instinto de classe e espírito de guerra. O abuso dos qualificativos é particularmente grave quando chega a conceitos como o de "terrorismo". Em entrevista à SIC notícias, Rui Pereira, ministro da administração interna, não hesitou em qualificar o acto de "eco-terrorismo soft". O ministro devia saber que quando se perde o sentido das proporções, se acordam consequências escondidas: a de banalizarmos, isso sim criminosamente, o valor das palavras.
Uma portaria do absurdo
Discutiu-se mais o que aconteceu do que o problema para que quis chamar a atenção. Mas a quantos, com argumentos bem razoáveis, invocaram o problema do Estado de Direito, vale a pena contar uma pequena história. Em 2003, o decreto-lei 72 regulou as condições em que poderia ocorrer o cultivo de transgénicos. Nele se incluía um anexo relativo à necessidade de defender as pessoas das inalações de pólen e um fundo de compensação para possíveis perdas de agricultores de milho híbrido. Na lei seguinte, de 21 de Setembro de 2005, misteriosamente, as "minudências" caem. Em troca, cria-se a figura "zonas livres" do cultivo de transgénicos, cuja regulamentação é diferida para uma portaria que sairia em Dezembro do ano passado.
Que nos diz a portaria? Que a fixação de zonas livres é fixada pelas assembleias municipais. Parece razoável, muito bem até. Ou seja, a interdição de cultivo passaria a ser uma competência local, decidida pelo parlamento local. Mas a portaria também diz como acabar com a prerrogativa: impõe que dois terços dos agricultores assinem uma declaração prévia nesse sentido - um processo burocrático, tudo menos ingénuo - e , logo a seguir, que a decisão pode ser invalidada pela simples vontade de um agricultor se dedicar aos transgénicos. É um completo absurdo. De que adianta a maioria democraticamente eleita decidir (no Algarve foi por unanimidade), se um só - e foi o caso - invoca a sua vontade e direito, e com esse gesto, anula a decisão?
O essencial e o acessório
Cada um se agarra ao que lhe parece essencial. Para o bloco, o essencial é a resposta á questão: "transgénicos no prato"? Como bem sublinha Nuno Pacheco, em editorial do Público saído hoje, "há mais dúvidas do que certezas quanto aos transgénicos". É exactamente essa a questão. E é exactamente porque há "mais dúvidas do que certezas", que o princípio da precaução se recomenda como critério da decisão política.
Há pouco mais de um mês, o governo alemão, insuspeito de simpatias ecologistas, proibiu a comercialização de uma semente de milho transgénico da Monsanto, a MON 863 porque se confirmou, após aturados exames, que o consumo desse milho diminuía a resistência dos rins e dos fígados. Vale a pena ir mais longe?
Podemos discordar, de vários modos, da acção levada a cabo. Mas não se pode ignorar o problema para que ela quis alertar. Ele radica na sede de lucros das multinacionais que detêm as patentes das sementes. É aí, e não nos agricultores que delas dependem, que se encontra o nó górdio deste debate.
Miguel Portas

Socialistas geneticamente modificados

Assolado pelo tédio e pelos blogues de direita, há quem esteja obcecado com o desembarque do "eco-terrorismo" em Portugal. Uma alucinação puxa outra: Marques Mendes acusa o Governo de financiar "manifestações violentas". Na vertigem, o Governo vira-se para o Bloco. Para o ministro da Agricultura, opondo-se aos transgénicos, o Bloco anda a "fingir que é amigo da democracia e depois por trás vem incentivar estes jovens"... Mas esta conversão radical aos transgénicos é coisa recente no PS. O ministro da Agricultura aproveitou Agosto para lembrar que existe. A oportunidade foi a que se pôde arranjar. Um grupo ambientalista entrou numa propriedade agrícola algarvia e arrancou o equivalente a dois por cento do milho transgénico ali plantado, um hectare em cinquenta. A acção nada tem de original: por todo mundo, organizações como o Greenpeace ou o Movimento dos Sem-Terra têm realizado acções simbólicas deste tipo.
Nessas paragens, a mobilização ecologista tem aberto o debate na sociedade e são ouvidas as vozes de cientistas defensores do princípio da precaução. O que dizem é simples: não se conhecem as consequências - o melhor é estudar, antes de plantar e consumir. Por cá, salvo no parlamento, o tema tem estado quase ausente.
Assolado pelo tédio e pelos blogues de direita, há quem esteja obcecado com o desembarque do "eco-terrorismo" em Portugal. Uma alucinação puxa outra: Marques Mendes acusa o Governo de financiar "manifestações violentas"; o Governo, por seu lado, acusa o Bloco de, opondo-se aos transgénicos, fingir que é amigo da democracia e depois por trás vem incentivar estes jovens1...
Jaime Silva devia saber que, na política portuguesa, não é o Bloco que desloca figurantes. Pelo contrário, o Bloco identifica-se quando se manifesta. Mas o que o Governo quer (neste caso, até literalmente...) é um país a comer e calar. E por isso tenta criminalizar a opinião.
Porém, cabe lembrar a política do PS antes de chegarmos aos actuais 4200 hectares transgénicos (quase todos plantados sob o governo Sócrates). O princípio da precaução, que Jaime Silva desqualifica como "um papão", não é apenas a posição de organizações como a Quercus, ou de governos como o do Canadá, ou de sectores cada mais importantes em países que avançaram no cultivo de OGM muito antes dos agricultores portugueses. O zelo de Jaime Silva vira-se contra as posições anteriores do próprio Partido Socialista.
Em 2000, o grupo parlamentar do PS defendia a necessidade de prevenção quanto aos efeitos nocivos2 dos OGM, ao mesmo tempo que votava a favor do projecto-lei do Bloco de Esquerda proibindo o cultivo e a comercialização de transgénicos. O primeiro artigo da lei 12/2002, resultante do projecto do Bloco, era claro: "a modificação genética de microrganismos ou a cultura de organismos geneticamente modificados só é permitida no âmbito de estudos científicos". De então para cá, a voz das multinacionais das sementes ditou uma directiva europeia e o PS tornou-se aqui no seu megafone.
A Jaime Silva, delegado de propaganda OGM, não se pede mais: se, no futuro, se confirmarem na saúde pública os "efeitos nocivos" de que falava o PS, quem lembrará ainda o nome deste ministro?
Jorge Costa
1 http://sol.sapo.pt/PaginaInicial/Politica/Interior.aspx?content_id=51461
2 http://www3.parlamento.pt/PLC/Iniciativa.aspx?ID_Ini=6233

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

E isto não é revoltante?

Polícia carrega sobre ecologistas no aeroporto de Heathrow
Já leva uma semana o acampamento de mais de 1000 activistas contra as alterações climáticas, em pleno aeroporto internacional de Heathrow, em Londres. Apesar dos protestos decorrerem de forma pacífica e de a empresa responsável pela gestão do aeroporto ter afirmado que "Heathrow está a funcionar normalmente", isso não impediu a polícia de, ontem à noite, carregar com bastões sobre os manifestantes, provocando seis feridos. Os activistas reivindicam a suspensão dos planos de alargamento do aeroporto, cujo aumento de tráfego contribuirá para aumentar o aquecimento global.
Os manifestantes estão acampados desde há uma semana precisamente na área onde está prevista a construção da nova pista do aeroporto de Heatrow, o mais movimentado da Europa, com cerca de 70 milhões de passageiros por ano. "Não temos nada contra os passageiros. Esta acção visa impedir que os governos e as empresas adoptem decisões inaceitáveis e baseadas apenas na lógica do lucro", afirmou Sophie Stephens, porta-voz dos manifestantes. De facto, os activistas optaram por "acções directas" junto à empresa que gere o aerorporto (BBA) e junto às instalações do Royal Bank of Scotland, que mantém uma parceria com essa empresa, não afectando o funcionamento normal do aeroporto.Os activistas contam com a opinião da generalidade da comunidade científica. Os últimos estudos apontam o sector aéreo como um dos grandes responsáveis pelo aquecimento global e referem que o dióxido de carbono e o vapor de água emitidos a grandes altitudes possuem um poder de aquecimento quatro vezes maior do que quando emitidos ao nível do mar.
O governo britânico comprometeu-se a combater as alterações climáticas por meio da diminuição das emissões de dióxido de carbono. No entanto, continua a alimentar a ampliação do setcor aéreo, que deve duplicar a sua dimensão nos próximos 25 anos.No acampamento em pleno aeroporto de Heathrow o número de manifestantes foi crescendo até chegar aos 1500. Ontem, quando se desencadeava uma acção directa junto à sede da empresa BBA, o aparato policial aumentou e terá ultrapassado mesmo o número de manifestantes (1600 polícias segundo o Guardian).
Seis pessoas ficaram feridas e 14 foram presas, num total de 58 presos desde o início do acampamento. Segundo os manifestantes, a polícia agiu de forma "desproporcionada" e com "brutalidade". "Sempre dissémos que não tínhamos intenção de impedir as pessoas de irem de férias. Fomos pacíficos a todos os níveis. A polícia exagerou na sua reacção e continua a considerar-nos potenciais terroristas", disse um dos activistas.
Outro manifestante relata a agressão que sofreu: "Estava a caminhar com o grupo quando vários polícias de intervenção aproximaram-se, deitaram-me ao chão e pontapearam-me a cara. Não lhes consegui ver a cara porque usavam passa-montanhas e escudos, mas vou de certeza apresentar queixa".Brian Thompson, um professor de 39 anos, relata na primeira pessoa: "Estávamos a correr ao longo da rua quando vários polícias bloquearam-nos. A polícia disse-me para me deitar e como recusei começaram a espancar-nos com os bastões. Levei nos braços e nas pernas, além de duas vezes numa canela, cuja pele se levantou. Acho que preciso de pontos"
www.esquerda.net em 20/08/07

domingo, 19 de agosto de 2007

Ministério da Agricultura oculta informação sobre campos transgénicos

Está disponível desde 23 de Julho no site da Direcção Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural (www.dgpc.min-agricultura.pt) a listagem dos campos cultivados este ano com milho transgénico em Portugal. No entanto, ao contrário do previsto na lei e do que tem acontecido em anos anteriores, o Ministério da Agricultura não divulga nem as localizações nem as áreas dos terrenos em causa. Além disso, a data tardia em que a divulgação é feita efectivamente impede medidas de protecção por parte de agricultores preocupados em evitar a contaminação dos seus terrenos e de apicultores interessados em manter o seu mel livre de pólen transgénico.
Como pode ser observado em http://www.stopogm.net/?q=node/71 o Ministério em 2006 divulgou o concelho (ou freguesia) e a área de cada terreno onde o milho transgénico foi cultivado. De facto, a alínea c) do artigo 27º do Decreto-Lei 72/2003 de 10 de Abril prevê especificamente a divulgação ao público das localizações das culturas geneticamente modificadas.
A obrigatoriedade de registos detalhados decorre da necessidade (real e legal, nomeadamente no âmbito da Directiva 2001/18) de monitorização contínua do desempenho das plantas transgénicas com o objectivo de detecção precoce de qualquer impacto negativo no ambiente ou na saúde. Sem o conhecimento da localização exacta de cada terreno é impossível desenvolver tal acompanhamento. Nem o Ministério do Ambiente, que é a Autoridade Competente nesta matéria em Portugal, possui os registos detalhados dos campos com culturas transgénicas!
Embora o Decreto-Lei 160/2005 preveja que os produtores mais próximos dos campos com transgénicos sejam avisados directamente, na prática as distâncias previstas (200 ou 300 metros) são reconhecidamente insuficientes para garantir protecção contra a contaminação, em particular na agricultura biológica e na apicultura (estão registados casos de contaminação a 800 metros, e as abelhas têm um alcance de voo de vários quilómetros)
Segundo o Eng. Gualter Baptista, da Plataforma Transgénicos Fora, "Inexplicavelmente, o Ministério da Agricultura entende que para se conhecer a localização de um terreno basta saber a região do país onde ele se encontra. Deviam ter perguntado primeiro aos CTT como é que se endereça um envelope. Na verdade, a informação divulgada é de tão baixa qualidade que não serve qualquer propósito para além de cumprir calendário. O Ministério da Agricultura dá assim provas de grande irresponsabilidade e imaturidade política: por manter o público afastado de informação que lhe pertence, por impedir os produtores de tomar medidas atempadas face aos riscos no seu entorno, e por bloquear o Ministério do Ambiente que se vê assim impedido de desenvolver a sua função de fiscalização."
Para mais informações: Margarida Silva, 91 730 1025
A Plataforma Transgénicos Fora é uma estrutura integrada por onze entidades não-governamentais da área do ambiente e agricultura (ARP, Aliança para a Defesa do Mundo Rural Português; ATTAC, Associação para a Taxação das Transacções Financeiras para a Ajuda ao Cidadão; CNA, Confederação Nacional da Agricultura; Colher para Semear, Rede Portuguesa de Variedades Tradicionais; FAPAS, Fundo para a Protecção dos Animais Selvagens; GAIA, Grupo de Acção e Intervenção Ambiental; GEOTA, Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente; LPN, Liga para a Protecção da Natureza; MPI, Movimento Pró-Informação para a Cidadania e Ambiente; QUERCUS, Associação Nacional de Conservação da Natureza; e SALVA, Associação de Produtores em Agricultura Biológica do Sul) e apoiada por dezenas de outras. Para mais informações contactar info@stopogm.net ou www.stopogm.net
Mais de 10 mil cidadãos portugueses reiteraram já por escrito a sua oposição aos transgénicos.
www.gaia.pt.org

Activistas 'ceifam' campo de milho transgénico em protesto



Meia centena de "ceifeiros" invadiram ontem uma herdade em Silves e destruíram um campo de milho transgénico. Os activistas do Movimento Verde Eufémia admitem realizar mais acções de desobediência civil para combater o cultivo de organismos geneticamente modificados (OGM). O hectare de milho destruído, dizem, foi apenas o "dano colateral" de uma acção destinada a lançar o alerta. Mas que assinala uma nova forma de combate ecológico, ainda inexistente em Portugal mas já praticada lá fora.Em causa nesta acção está o que os activistas do recém criado movimento consideram ser a "salvaguarda do direito a um ambiente saudável". E a destruição de 2% do campo da Herdade da Lameira uma forma de "estabelecer a ordem ecológica, moral e democrática que tem sido deteriorada pelas políticas europeias e do Governo", explicou ao DN Gualter Baptista, porta-voz da acção.A necessidade de intervir desta forma, acrescenta, acontece porque "as autoridades nacionais não respeitam a opinião e o direito dos cidadãos". O Movimento Verde Eufémia considera que "a intervenção directa é, em parte, uma maneira de resolver o problema. Não o fazemos de ânimo leve e não temos nada contra o proprietário desta herdade".Apesar de na comunidade científica o tema dos OGM não ser pacífico, pois o desconhecimento dos perigos e vantagens é ainda grande, os activistas consideram que já há estudos que mostram claramente que a contaminação genética é inevitável e irreversível, causando danos no ambiente, na saúde pública e quebras no rendimento agrícola. Na dúvida, aposta-se na precaução, defendem.A associação Quercus partilha as mesmas preocupações mas demarca-se deste tipo de acções. "Consideramos que o Governo não tem ouvido a opinião das associações de defesa do ambiente nem garantido a não contaminação da agricultura biológica e tradicional. Mas demarcamo-nos profundamente deste tipo de acções", assegurou ao DN Hélder Spínola. O presidente da Quercus diz que em Portugal este é o primeiro protesto ecológico com danos directos. A Quercus lembra que no estrangeiro há acções que usam métodos bem mais violentos, como a destruição de fábricas. Mas considera que o extremar de posições não favorece o debate e o envolvimento da população na solução dos problemas ambientais. "Vale mais uma sociedade sensível e participativa do que três ecologistas activos."Em Portugal já houve acções radicais promovidas pela Greenpeace com colaboração nacional, como a que levou activistas a pendurarem-se na ponte de Leixões para evitar a entrada de barcos com madeira ilegal. Mas nunca com prejuízos directos, assegura a Quercus. O Ministério da Agricultura considerou que a acção de protesto de ontem deve ser remetida para as autoridades policiais.
in DN Online

Nada é impossivel de mudar

Desconfiai do mais trivial, na aparencia singelo. E examinai, sobretudo, o que parece habitual. Suplicamos expressamente: nao aceiteis o que é de habito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confusao organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural nada deve parecer impossivel de mudar. Bertold Brecht .

sábado, 18 de agosto de 2007

Tiro no escuro


Esta campanha televisiva está na MTV e quer prevenir a SIDA num dos grupos de risco onde as infecções estão a crescer: as mulheres heterosexuais com menos de 30 anos. O spot "Tiro" foi feito por uma equipa portuguesa e esteve presente na final de Cannes na competição "outros filmes digitais". Vê o vídeo aqui .
Ler Mais...
www.esquerda.net

Choque de Civilizações


Este vídeo com música de DJ Spooky denuncia o apregoado "choque de civilizações" e reclama a paz para o Médio-Oriente. O movimento que o lançou acredita que a maior parte da Humanidade não quer um conflito entre religiões e culturas e por isso lançou um apelo para a paz na Palestina. Vê o vídeo aqui .
Ler Mais...

Dossiê Polónia: os gémeos à beira do fim?

As eleições antecipadas na Polónia, que deverão ocorrer emOutubro deste ano, podem marcar o fim de um período inédito na história deste país. O dossiê desta semana analisa a política autoritária e ultra-conservadora dos gémeos Kaczynski que, de há dois anos para cá, colocaram a Polónia na boca do Mundo, pelas piores razões. Em "A caça às bruxas espalhou o medo na Polónia" Luiz Eça dá-nos o quadro geral da essência persecutória deste regime. O dirigente sindical Bogusław Ziętek fala-nos de um país cuja taxa de desemprego é de 18% e onde uma em cada oito pessoas vive na miséria. Mesmo assim, mundos e fundos são dirigidos para fins bélicos, numa aliança militante com Bush e as suas políticas imperiais. A cruzada conservadora deste Governo ataca os homossexuais e produz leis e declarações dignas de um anedotário, mas que ainda assim consegue convencer os líderes europeus na elaboração do novo tratado constitucional. Com tanta imaginação, não surpreende que os gémeos kackzynski tivessem passado pelo cinema antes de se aventurarem no poder. Finalmente, um conjunto de vídeos sobre a resistência social na Polónia e uma compilação de todas as notícias e artigos sobre este país publicados no Esquerda.net.
www.esquerda.net

Socialismo 2007

O Bloco de Esquerda organiza a iniciativa Socialismo 2007, um Fórum de ideias com debates e workshops, que terá a sessão de abertura a 31 de Agosto às 21 h e decorrerá nos dias 1 e 2 de Setembro.Aqui pode aceder (clicando no link ou na imagem) ao folheto, que divulga o programa, os participantes e tem também uma ficha de inscrição. Contace para o e-mail
socialismo2007@esquerda.net
www.esquerda.net

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

ECOTOPIA 2007

O Ecotopia é um acampamento anual de activistas de toda a Europa e um encontro aberto a todas as pessoas interessadas em questões ambientais e de justiça social. É organizado a nível internacional pela EYFA (European Youth For Action) e este ano é promovido em Portugal pelo GAIA (Grupo de Acção e Intervenção Ambiental).
A organização e os participantes do evento pretendem denunciar a pressão realizada por uma Europa Fortaleza de fronteiras relativas – não se encontrando problemas no livre trânsito de bens ou dinheiro, mas sim na livre circulação de pessoas –, que pressupõe um regime de vistos/autorizações de entrada de pessoas com implicações e consequências nos mais diversos planos. No exemplo concreto deste Ecotopia, foi proibida a entrada em Portugal a cerca de 100 pessoas (principalmente da Europa de Leste e do Norte de África), que tinham a intenção de participar no encontro. A esses cidadãos do mundo será erguido um memorial no centro da vila.
O encerramento das fronteiras não pode esconder o facto real de um contexto multicultural presente, fomentado pela globalização e condicionando a vida de cada pessoa. Com a acção, os activistas pretendem exigir um horizonte intercultural que entenda cada pessoa como cidadã do mundo, não ilegal, com uma valência positiva de aprendizagem e vivência comum, com liberdade efectiva de movimento.
Contra a Europa Fortaleza, a liberdade de movimentos é um direito de tod@s!
www.gaia.org.pt

Bolsa de Tóquio tem maior queda em 7 anos; Lisboa em 9 anos


A Bolsa de Tóquio encerrou hoje de manhã com a maior queda dos últimos anos sete anos, ao perder 874,81 pontos (5,42 por cento relativamente ao encerramento de quinta-feira). Foi o culminar de um dia de grandes perdas nos mercados bolsistas em todo o mundo, ao qual já há quem chame de "minicrash". Lisboa teve a maior quebra desde 1998. A crise foi detonada pelos receios criados pela crise no mercado de crédito hipotecário de alto risco nos Estados Unidos da América. A brutal injecção de dinheiro por parte dos bancos centrais nos sistema monetário nos últimos dias não está a ter o esperado efeito de acalmia. Só hoje, a Reserva Federal norte-americana injectou mais 17 mil milhões de dólares, e o Banco do Japão anunciou que vai injectar 1.200 mil milhões de ienes (oito mil milhões de euros) no mercado monetário para fazer frente à falta de liquidez. "O cash (dinheiro) não evita o medo do crash", diz o diário francês Libération.
Ler mais...


terça-feira, 14 de agosto de 2007

Relatório Desenvolvimento Humano 2007

Em Novembro de 2007 vai ser lançado mais um Relatório de Desenvolvimento Humano pela ONU, desta vez analisando em profundidade a questão das alterações climáticas. O texto que se segue faz uma síntese de algumas das conclusões do relatório:
O desenvolvimento humano tem a ver com colocar as pessoas no centro do desenvolvimento. Tem a ver com deixar as pessoas realizarem plenamente seu potencial, aumentar suas escolhas e garantir sua liberdade de viver a vida que valorizam Criado em 1990, o Relatório do Desenvolvimento Humano vem explorando temas que incluem equidade de gênero, democracia, direitos humanos, globalização, liberdade cultural e escassez de água.
A mudança climática é o maior desafio que se coloca para a humanidade neste início do Século XXI. O fracasso em enfrentar este desafio desperta o fantasma de reversões sem precedentes no desenvolvimento humano. Os países mais pobres e as pessoas mais pobres do mundo sofrerão o maior impacto.
Os últimos anos testemunharam o surgimento de um consenso crescente com relação à mudança climática. Governos ao redor do mundo já percebem os sinais de advertência. A ciência já demonstrou sem sombra de dúvida o vínculo entre o aquecimento global e a atividade humana. O argumento econômico para a ação é sólido: os custos da falta de ação serão muito superiores aos custos da ação. Contudo, a política continua atrás da ciência e da economia. Coletivamente, os governos mundiais não estão atuando com a urgência exigida pela magnitude da ameaça.
A janela de oportunidade para evitar a perigosa mudança climática está se fechando rapidamente. O relatório do Desenvolvimento Humano deste ano explica porque temos menos do que uma década para mudar de curso e começar a viver dentro de nosso orçamento global de carbono. Explica como a mudança climática criará armadilhas de baixo desenvolvimento humano de longa duração, lançando as pessoas vulneráveis numa espiral descendente de carência. Por ser um problema global com causas e efeitos globais, a mudança climática exige uma resposta global, com os países atuando de acordo com sua responsabilidade histórica e suas capacidades. O Relatório do Desenvolvimento Humano 2007 será lançado em novembro.
www.esquerda.net

Jornal de Verão do Bloco



A receita do governo Sócrates é comer e calar é o título do jornal de Verão do Bloco de Esquerda. Nele são divulgadas duas iniciativas do Bloco: as jornadas sobre as alterações climáticas e socialismo 2007. No jornal pode também ler "listas de espera para cirurgia são uma vergonha" e cinco propostas do BE sobre a saúde.No jornal de Verão, é publicado ainda um artigo de Miguel Portas sobre a presidência portuguesa da União Europeia: "Sem ondas".Clique para aceder ao jornal de Verão em pdf





Portugal apresenta o maior fosso entre ricos e pobres da Europa

De acordo com os dados do Eurostat, citados na edição de hoje do Jornal de Negócios, Portugal continua a ser o país da União Europeia a quinze cujo fosso entre ricos e pobres é maior. Os últimos dados disponíveis (referentes a 2005) mostram que os 20% mais ricos apresentam rendimentos mais de oito vezes superiores aos dos 20% mais pobres, quando na União Europeia esta distância não chega a ser multiplicada por cinco. E enquanto a tendência geral na Europa foi de diminuição deste fosso, nos últimos dez anos Portugal faz parte dos poucos países que agravaram as desigualdades, tendo mesmo registado o maior aumento.
Portugal foi o país em que as desigualdades mais aumentaram nos últimos 10 anos. Em 1995, os 20% mais ricos do país tinham 7,4 vezes mais rendimentos do que os 20% mais pobres, sendo já na altura o maior fosso da Europa a 15, cujo coeficiente médio era de 5,1. Enquanto a esmagadora maioria dos países reduziram este fosso, os dados de 2005 mostram que Portugal foi dos poucos países em que as desigualdades se acentuaram, aumentando o coeficiente para 8,2 contra 4,8 da média da União Europeia. Ou seja, se Portugal já era o campeão da desigualdade, ficou ainda mais destacado nessa posição. Os dados do Eurostat mostram também que, apesar de terem sido outros dois países em que o fosso entre ricos e pobres aumentou, é na Suécia e na Finlândia que esta diferença continua a ser menor (3,3 e 3,6, respectivamente).Bruto da Costa, Presidente do Conselho Económico e Social, em declarações ao Jornal de Negócios, explicou que «na classe dos trabalhadores por conta de outrém, observa-se uma tendência para uma crescente assimetria entre os rendimentos que são auferidos pelos membros das administrações e os outros trabalhadores», acrescentando que «essa diferença pode ser já superior ao diferencial que no passado se observava entre a remuneração do capital e do trabalho».
Segundo dados revelados recentemente pela Comissão de Mercado de Valores Mobiliários, as remunerações dos Conselhos de Administração das 20 empresas portuguesas cotadas na Bolsa mais do que triplicaram entre os anos 2000 e 2005.
www.esquerda.net

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Manu Chao grava vídeo de apoio a Rigoberta Menchú

http://www.youtube.com/watch?v=_5fZ8FblwHE
Manu Chao gravou uma mensagem de apoio a Rigoberta Menchú, que se candidata a presidente da Guatemala, nas eleições que vão decorrer em 9 de Setembro próximo. Rigoberta Menchú recebeu em 1992 o prémio Nobel da Paz pelo seu trabalho em defesa dos direitos dos indígenas. No discurso, que fez quando recebeu o prémio, reivindicou os direitos históricos negados aos povos indígenas e denunciou a perseguição por eles sofrida desde a chegada dos europeus ao continente americano.
Rigoberta Menchú, que nasceu em 1958 e é indígena maia, destacou-se como lutadora pelos direitos sociais, em particular dos indígenas, e pelo combate à ditadura militar na Guatemala.
Rigoberta Menchú candidata-se a presidente da República da Guatemala nas próximas eleições, que decorrerão a 9 de Setembro. É apoiada pelo partido Encuentro por Guatemala

sábado, 4 de agosto de 2007

AR INTERIOR E SAÚDE PÚBLICA

por Ricardo Coelho

Quando a questão da qualidade do ar é abordada nos meios de comunicação social destaca-se normalmente a poluição exterior. Uma foto de uma chaminé de uma central termoeléctrica a libertar fumo chega facilmente às primeiras páginas dos jornais, mesmo quando se trata apenas de vapor de água. No entanto, o maior perigo para a saúde humana reside não no fumo negro dos escapes e das chaminés mas nos poluentes invisíveis presentes no interior dos edifícios. Exposições prolongadas a pequenas doses de poluentes podem ser mais prejudiciais para a saúde que exposições curtas a grandes concentrações. Se juntarmos a isto o facto de a maioria das pessoas passar mais tempo dentro de edifícios que fora deles temos aqui um problema de saúde pública sério ligado à qualidade do ar interior dos edifícios.
Ler Mais...

ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS

AS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS: A EXIGÊNCIA DE UM NOVO PARADIGMA

José Sousa
As Alterações Climáticas, longe de constituírem apenas mais um problema ambiental, são uma verdadeira ameaça à Civilização Humana (Ver também conclusões, pág. 25 e 26, deste "paper" publicado na Academia Real das Ciências Britânica).Isto significa um cenário em que a democracia, a paz, a qualidade de vida, o bem estar económico, a esperança de vida e a própria sobrevivência estarão ameaçados num horizonte temporal não muito longínquo se não se alterar radicalmente a forma como produzimos, consumimos e convivemos à escala do planeta.


As Alterações Climáticas são, em parte, o resultado de um modelo de “desenvolvimento” acelerado. A obsessão pelo crescimento desenvolveu uma infra-estrutura energética que é responsável pela aceleração do tempo: estamos a provocar desequilíbrios com um potencial de destruição catastrófico e irreversível à escala do tempo da Civilização.Torna-se portanto necessário desacelerar, inverter o rumo em direcção ao abismo.A luta contra as Alterações Climáticas só será eficaz se tivermos uma perspectiva ética que envolva toda a Humanidade (quer à escala micro da nossa vida quotidiana quer à macro escala das relações entre nações), porque nunca como agora a Humanidade esteve tão interdependente (Ver "Um só Mundo - A Ética da Globalização"). E desta vez, pelo menos, não se trata de um lugar-comum afirmá-lo.As Alterações Climáticas exigem uma nova, ou renovada, forma de pensar em várias áreas da política.A obsessão com a competitividade tem que dar lugar à cooperação: a partilha de recursos, tecnologias, culturas, é essencial sob pena de cairmos numa situação do tipo “Tragédia dos Comuns”: o egoísmo e a falta de confiança mútua entre os povos leva ao desastre. Há uma necessidade absoluta de se desenvolver um verdadeiro internacionalismo, de considerar o Planeta como a nossa Pátria, a nossa bandeira!É preciso combater a ideia de que o terrorismo internacional é a principal ameaça que o mundo ocidental enfrenta (ver "As ameaças do mundo actual") . As despesas militares deverão ser reorientadas para a cooperação internacional, para a investigação científica em novas energias, etc. porque o “novo inimigo” não tem rosto e não pode ser combatido com armas.Mas a ideia fundamental é que o ritmo de vida tem que desacelerar. No processo da chamada “criação de riqueza” estamos na realidade a destruir a base que nos sustenta, o capital natural (Ler este pequeno e interessante artigo sobre os serviços que a natureza nos presta). Infelizmente, ainda não começámos a inverter esta tendência. Pelo contrário, essa tendência parece agravar-se. Uma forma de desacelerar este processo, é reverter a globalização económica.Instilar o medo, seja do terrorismo, seja da perda de protecção na saúde, de perda de protecção na reforma, de termos de trabalhar mais, da precariedade do trabalho, etc. tudo isso conduz a um sentimento de insegurança perante o qual o problema das Alterações Climáticas parece insignificante e longínquo. Isto só contribuirá para o seu agravamento e antecipação.A Humanidade já tem os meios para proporcionar uma vida decente a todos os cidadãos do planeta, e é necessário que se diga isto às pessoas (Ver "Os Limites do Crescimento"). Mas estes meios têm que ser partilhados e utilizados com ponderação, sob pena de se esgotarem rapidamente, como é o caso dos combustíveis fósseis. É necessário estarmos atentos aos "Sinais Vitais" do nosso planeta.Se uns gastarem desenfreadamente (por ex., os EUA), os outros (por ex., a China) não se convencerão da necessidade de contenção (Ler "Protocolo de Esgotamento do Petróleo") . Em último caso, o conflito armado pode ser o resultado, trágico para todos. E muitos parecem ter esquecido como foi trágica a primeira metade do Séc. XX. A paz e a democracia não são um dado adquirido, no Mundo e na Europa. As teorias do fim da história são absurdas.A partilha significa mais transportes públicos e menos automóveis, mais bibliotecas, mais espaços públicos de convivência e menos centros comerciais, em suma, mais e melhores serviços públicos. Significa produzir menos desperdício. Dificilmente será compatível com a privatização de largos sectores estratégicos, em que as lógicas de produção e investimento pouco têm a ver com as necessidades reais e com a tal partilha. Trata-se de um problema prático, mais até do que puramente ideológico. Segundo o "Relatório Stern", as alterações climáticas são a maior "falha de mercado" jamais vista. É preciso tirar as devidas ilações desta afirmação. Se o mercado não funcionou, como é possível continuar a defender privatizações sem critério (ou quando este é apenas financeiro, de finanças públicas), sobretudo nos sectores estratégicos?
A motivação de uma GALP privatizada é ter o maior lucro possível, o que a retira de uma lógica global, que é a pública, de redução e equidade do consumo. A publicidade é uma área que precisa de forte regulamentação e limitação. Os estilos de vida que difunde e estimula, o contínuo apelo ao consumismo individualista. é tudo menos o indicado para ajudar a combater as Alterações Climáticas e a degradação ambiental em geral.
Existe um falso consenso sobre o problema das Alterações Climáticas. Estas, por ignorância ou incúria (ver aqui e aqui, a propósito das inundações deste Verão em Inglaterra; o ordenamento do território é um dos pontos salientados) não são levadas de forma suficientemente séria, pela simples razão de que não se traduzem em políticas públicas de fundo e coerentes entre si.As empresas, em geral, incluindo as públicas (veja-se o caso da Carris com a sua campanha sobre “Sustentabilidade”), parecem encarar a coisa como uma moda, utilizando-a e referindo-se-lhe como algo que fica bem e parece moderno, não passando as medidas que tomam da mera superficialidade. Meras operações de “marketing”, num quadro de “business-as-usual”.É o que se chama de “Greenwashing”, o equivalente verde do branqueamento. Não basta a Carris dizer que é sustentável, são necessárias políticas de transporte coerentes com objectivos temporais para transferir pessoas do transporte particular para o colectivo.
A ideia, difundida nos concertos “Live Earth”, de que é possível combater as Alterações Climáticas sem dor, sem alterar nada de fundamental, é perniciosa. O problema é que se acumularam demasiados erros. Mas não fazer nada é ainda pior. No entanto, uma vez que a mudança seja aceite, muitas das alterações necessárias poderão implicar até uma melhoria da qualidade de vida.

http://futureatrisk.blogspot.com/