domingo, 26 de abril de 2009

EM ABRIL, PROVOCAÇÕES MIL !

O presidente da Câmara Municipal de Santa Comba Dão decidiu integrar nas comemorações oficiais do 35º aniversário do 25 de Abril, “a inauguração da requalificação do “Largo Salazar”..
Face aos protestos da URAP e das organizações locais do Bloco de Esquerda, do PCP e do PS, o autarca João Lourenço disse à comunicação social que o largo já tinha o nome do ditador e inaugurar a sua requalificação no 25 de Abril “foi uma coincidência feliz”. Se tivesse dito que se tratava apenas de uma coincidência já seria grave; mas “feliz coincidência”?... O homem diz que não é admirador do Salazar, mas depois tem um “lapsus linguae” e foge-lhe o sentimento para a boca.
Ao DN disse João Lourenço que “o passado já lá vai e é preciso exorcizar os fantasmas que muitos portugueses têm na cabeça. É preciso que todos cresçam democraticamente”. Ora, o passado não vai lá assim há tanto tempo para nos esquecermos dos 40 anos que Portugal sofreu com o “botas” de Santa Comba, que levou metade da população a emigrar para fugir à fome e à miséria; que bateu, prendeu, torturou e assassinou os trabalhadores que lutaram pelos seus direitos e os anti-fascistas que denunciavam a ditadura e lutavam pela liberdade do povo. Este, submetido pelo analfabetismo e pela ignorância, foi amordaçado pela censura, pela PIDE e por todo um aparelho de repressão que destilava medo por todos os poros. Os únicos fantasmas que temos na cabeça são os mortos da repressão e da guerra colonial. Quem não cresceu democraticamente foi João Lourenço que admitiu (em entrevista ao DN) que “provocação seria inaugurar a requalificação do Largo Salazar no 1º de Maio, Dia do Trabalhador”. Com certeza que seria uma provocação inaugurar no Dia Mundial dos Trabalhadores qualquer placa toponímica com o nome de um ditador que reprimiu ferozmente os trabalhadores que se insurgiam contra os salários de miséria e a brutal exploração dos grandes patrões, que tinham as costas quentes pela ditadura. A (insuspeita) revista Sábado desta semana trás um interessante artigo sobre as relações promíscuas entre Salazar e a meia dúzia de famílias mais ricas, a dos milionários e monopolistas que dominavam a economia do país (Espiritos Santos, Mellos, Champalimaud, Boullosa, Manuel Fino, Alfredo da Silva e poucos mais) com trocas de favores relacionados com os negócios à mistura com a mais enjoativa bajulice.
Mas João Lourenço já não acha provocação associar o nome de Salazar ao 25 de Abril. A liberdade tudo permite, até morder o próprio rabo, pensa o edil de Santa Comba. Com certeza que graças ao 25 de Abril ninguém o irá impedir de “comemorar” o Dia da Liberdade com uma provocação a todos os democratas, incluindo os de Santa Comba Dão. Precisamente pelo mesmo motivo, o presidente da Câmara Municipal de Santa Comba também não pode impedir os democratas e anti-fascistas de se insurgirem contra o que consideram uma provocação e uma afronta ao 25 de Abril.
João Lourenço deve sentir-se amparado pelo apoio de alguns dos seus correligionários do PSD e do PP, como os que escrevem nos jornais locais a elogiar Salazar. Mas devia ter a consciência de que nem todos os eleitores que o elegeram são admiradores do ditador e, por consequência, tinha obrigação de mostrar mais sensibilidade política para não ofender os sentimentos dos democratas que, estou convicto, constituem a maioria da população de Santa Comba Dão.
Um dia depois do Núcleo de Santa Comba Dão do Bloco de Esquerda ter emitido um comunicado a repudiar esta provocação ao 25 de Abril, os cartazes que este partido tinha afixado em placards metálicos apareceram rasgados. Certamente, por mera (e “feliz”?) coincidência...

João Lourenço, em entrevista ao JN de 21.11.2005, disse que Santa Comba Dão deve explorar turisticamente a marca “Salazar”, “conhecida a nível nacional e internacional”. Só essa afirmação já é suficiente para confirmar os receios dos que pensam que o Museu Salazar, eufemísticamente chamado de Centro de Estudos do Estado Novo, não pretende ser mais do que um chamariz para atrair os delinquentes da extrema direita e os saudosistas da ditadura, como os que ali acorreram para a contra manifestação de Março de 2007, com saudações nazis e vivas a Salazar.
O autarca de Santa Comba Dão devia pensar noutras formas mais eficazes de desenvolvimento do seu concelho em vez de insistir em levar para a frente o “Museu Salazar”. Não sei se por uma “feliz coincidência”, Soares Marques, presidente da Câmara de Mangualde, também já anunciou o seu projecto de um Museu do Porco. Por qualquer associação de ideias, João Lourenço lembrou-se de inaugurar a requalificação do Largo Salazar com a oferta à população de “porco no espeto”.
Estou certo de que os democratas de Santa Comba Dão preferirão mil vezes o porco de Mangualde. Alguém duvida de que os objectos pessoais do ditador não atrairão a Santa Comba nem um milionésimo das pessoas que são atraídas a Mangualde pelo cheirinho das febras de porco, durante a Feira dos Santos

Carlos Vieira

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Comemorações do 25 de Abril em Santa Comba Dão – Posição do Núcleo do Bloco de Esquerda

Na sequência da publicitação do Programa das Comemorações do 25 de Abril anunciadas para Sta Comba Dão, o Núcleo do Bloco de Esquerda vem manifestar a sua total oposição face ao teor das mesmas. Mais especificamente, no que concerne, à inauguração do Largo Salazar nesse mesmo dia e inserida no Programa das Festividades Oficiais.
Parece-nos que este executivo demonstra não ter qualquer respeito pela sensibilidade de muitos cidadãos para quem o 25 de Abril ainda tem algum significado.
Comemorar o 25 de Abril com a inauguração de um Largo ao qual está atribuido o nome de Salazar, o qual durante 48 anos oprimiu este país e o seu povo, parece-nos uma afronta e nesse sentido manifestamos a nossa total oposição ao acto.
O Núcleo do Bloco de Esquerda de Santa Comba Dão