terça-feira, 27 de maio de 2008

DIZ QUE É UMA ESPÉCIE DE MUSEU…

"Não construam monumentos que não possam derrubar"
(Wilhelm Reich)
O museu Salazar tornou-se, nos últimos 20 anos, a obsessão de todos os executivos camarários. Enérgico e certamente inspirado no ditador, o actual presidente de câmara parece ter lançado a palavra de ordem - Para o Vimieiro, rapidamente e em força.
À conta desta energia, o Eng. Lourenço conseguiu o milagre de colocar a barricada ideológica no centro da vila. De um lado a evocação do 25 de Abril, do outro o 26 de Maio. De um lado o punho erguido, do outro o braço estendido. De um lado a “Grândola vila morena”, do outro os vivas a Salazar. De um lado o grupo excursionista da URAP, do outro o folclore neofascista. Tudo isto sem sangue no asfalto.
Para serenar os ânimos o presidente da câmara prometeu dedicar um espaço do futuro museu à luta antifascista. Como se a História da oposição ao Estado Novo pudesse ser empurrada para o quarto dos fundos da casinha do ditador. O Eng. Lourenço ainda não percebeu que a perseguição, a censura e o medo não foram um pormenor da História mas o traço identificativo do regime. A oposição antifascista não foi um mundo à parte. Foram homens e mulheres de coragem que ao perder ou ao arriscar a vida criaram as condições para hoje vivermos em liberdade.
Será razoável construir um museu quando o espólio se reduz aos objectos pessoais do ditador – mala de seminarista, garrafas de vinho da quinta das ladeiras, restaurador olex e alguns documentos irrelevantes? Ou como alguém já definiu, “uma cangalhada sem relevância científica”. Além disso, como irá um executivo camarário atolado em dívidas financiar uma obra de 5 milhões de euros?
Para o Bloco de Esquerda a construção de um Museu do Estado Novo não é uma prioridade para o concelho. Prioridade é a aplicação de políticas de desenvolvimento sustentado. Políticas ambientais avançadas, de criação de emprego, de gestão responsável e transparente, de descentralização cultural.

António Miguel Rodrigues

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