A competição dos agro-combustíveis com a produção de alimentos tem levado ao aumento substancial do preços destes, gerando fortes conflitos sociais. O resultado, assinala Atílio Borón Biocombustibles: el porvenir de una ilusión, é um "holocausto social de enormes proporções: por cada incremento de um por cento no preço dos alimentos básicos, juntam-se mais 16 milhões de pessoas ao grupo dos que passam fome". A procura de milho para produção de etanol nos EUA já aumentou o actual défice mundial de cereais, provocando uma subida significativa dos preços do milho: as reservas mundiais de cereais desceram ao seu nível mais baixo em mais de duas décadas.
Por exemplo, conforme aumenta a capacidade transformadora do trigo em etanol este aumenta de preço: 115% nos EUA em apenas 15 meses; a cevada, outra fonte de etanol, aumentou uns 50%. Em 2006, cerca de 60 por cento do total do óleo de colza produzido na UE destinou-se ao fabrico de biodiesel. O preço do óleo de colza subiu 45 por cento em 2005, e depois mais 30% até atingir cerca de 800 dólares por tonelada. O gigante alimentar Unilever prevê outro aumento do preço de cerca de 200 euros por tonelada para o próximo ano devido a uma procura adicional de biodiesel.
Segundo a FAO, em 2006 registou-se uma baixa na relação reservas mundiais/consumo de cereais, assim como níveis recorde da procura (superando a produção mundial) do cultivo de oleaginosas, devido à produção de agro-combustíveis..
A expansão da produção de agro-combustíveis coloca em risco a soberania alimentar e pode agravar profundamente o problema da fome no mundo. No México, por exemplo, o aumento das exportações de milho para abastecer o mercado de etanol nos Estados Unidos causou um aumento de 400% no preço do produto, que é a principal fonte de alimento da população, provocando protestos massivos.
Lester Brown, director do Earth Policy Institute e ex-funcionário de vários governos americanos, adverte: "a quantidade de cereal que se necessita para encher um tanque de quase 100 litros com etanol uma única vez chega para alimentar uma pessoa um ano inteiro". Acrescenta ainda que "a competição entre os 800 milhões de automóveis e as 2.000 milhões de pessoas mais pobres do mundo pode conduzir a revoltas populares".
C. Ford Runge e Benjamin Senauer, no artigo "How Biofuels Could Starve the Poor" publicado em foreignaffairs.org, assinalam: "Numa investigação sobre a segurança alimentar mundial que fizemos em 2003, prognosticámos que de acordo com as taxas de crescimento económico e demográfico, o número de famintos no mundo se reduziria em cerca de 23%, quase 625 milhões de pessoas, sempre que a produtividade agrícola crescesse de tal forma que se pudessem manter constantes os preços relativos dos alimentos. Porém, se os restantes factores não variarem, se os preços dos alimentos básicos subirem devido à procura de biocombustíveis, como sugerem as projecções do IFPRI (International Food Policy Research Institute), a quantidade de pessoas no mundo que não têm a sua segurança alimentar assegurada aumentará em mais de 16 milhões cada vez que aumente em um por cento o preço real dos alimentos básicos. A ser assim, em 2025 poderia haver 1200 milhões de pessoas que sofrem de fome crónica, mais 600 milhões que o número antes previsto".
sexta-feira, 28 de setembro de 2007
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