Assolado pelo tédio e pelos blogues de direita, há quem esteja obcecado com o desembarque do "eco-terrorismo" em Portugal. Uma alucinação puxa outra: Marques Mendes acusa o Governo de financiar "manifestações violentas". Na vertigem, o Governo vira-se para o Bloco. Para o ministro da Agricultura, opondo-se aos transgénicos, o Bloco anda a "fingir que é amigo da democracia e depois por trás vem incentivar estes jovens"... Mas esta conversão radical aos transgénicos é coisa recente no PS. O ministro da Agricultura aproveitou Agosto para lembrar que existe. A oportunidade foi a que se pôde arranjar. Um grupo ambientalista entrou numa propriedade agrícola algarvia e arrancou o equivalente a dois por cento do milho transgénico ali plantado, um hectare em cinquenta. A acção nada tem de original: por todo mundo, organizações como o Greenpeace ou o Movimento dos Sem-Terra têm realizado acções simbólicas deste tipo.
Nessas paragens, a mobilização ecologista tem aberto o debate na sociedade e são ouvidas as vozes de cientistas defensores do princípio da precaução. O que dizem é simples: não se conhecem as consequências - o melhor é estudar, antes de plantar e consumir. Por cá, salvo no parlamento, o tema tem estado quase ausente.
Assolado pelo tédio e pelos blogues de direita, há quem esteja obcecado com o desembarque do "eco-terrorismo" em Portugal. Uma alucinação puxa outra: Marques Mendes acusa o Governo de financiar "manifestações violentas"; o Governo, por seu lado, acusa o Bloco de, opondo-se aos transgénicos, fingir que é amigo da democracia e depois por trás vem incentivar estes jovens1...
Jaime Silva devia saber que, na política portuguesa, não é o Bloco que desloca figurantes. Pelo contrário, o Bloco identifica-se quando se manifesta. Mas o que o Governo quer (neste caso, até literalmente...) é um país a comer e calar. E por isso tenta criminalizar a opinião.
Porém, cabe lembrar a política do PS antes de chegarmos aos actuais 4200 hectares transgénicos (quase todos plantados sob o governo Sócrates). O princípio da precaução, que Jaime Silva desqualifica como "um papão", não é apenas a posição de organizações como a Quercus, ou de governos como o do Canadá, ou de sectores cada mais importantes em países que avançaram no cultivo de OGM muito antes dos agricultores portugueses. O zelo de Jaime Silva vira-se contra as posições anteriores do próprio Partido Socialista.
Em 2000, o grupo parlamentar do PS defendia a necessidade de prevenção quanto aos efeitos nocivos2 dos OGM, ao mesmo tempo que votava a favor do projecto-lei do Bloco de Esquerda proibindo o cultivo e a comercialização de transgénicos. O primeiro artigo da lei 12/2002, resultante do projecto do Bloco, era claro: "a modificação genética de microrganismos ou a cultura de organismos geneticamente modificados só é permitida no âmbito de estudos científicos". De então para cá, a voz das multinacionais das sementes ditou uma directiva europeia e o PS tornou-se aqui no seu megafone.
A Jaime Silva, delegado de propaganda OGM, não se pede mais: se, no futuro, se confirmarem na saúde pública os "efeitos nocivos" de que falava o PS, quem lembrará ainda o nome deste ministro?
Jorge Costa
1 http://sol.sapo.pt/PaginaInicial/Politica/Interior.aspx?content_id=51461
2 http://www3.parlamento.pt/PLC/Iniciativa.aspx?ID_Ini=6233
quinta-feira, 23 de agosto de 2007
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